Vamos começar entendendo a crise como um período de ruptura, desconstrução, ameaça, medo e proximidade com a morte. Foi isso que vivemos nos últimos dois anos. Fomos forçados a reaprender a produzir, a nos relacionar, a nos alimentar física e emocionalmente e, principalmente, a ativar nossos mecanismos de sobrevivência e criar recursos para sair dela.
Como líderes, tivemos que decidir sobre desafios, problemas, dilemas e incertezas e sem considerarmos o fato de nos sentirmos fracos, com poucas chances de nos permitir dúvidas e de aceitar nossas fraquezas e inseguranças, pois nossos liderados estavam à espera da nossa palavra, da nossa direção e, principalmente, do nosso acolhimento.
Sabemos que valores-guias dos líderes são definições valiosas, tanto para os indivíduos quanto para grupos, pois são o que sustenta a nobreza, o sentido e o significado da nossa existência. No entanto, eles não existem sem a prova, sem a ação. Eles se evidenciam nos momentos de crise e não basta discursá-los, têm que ser vividos e definidos.
Estamos hoje em um momento de transição, fazendo o balanço do que aprendemos na crise e o que é importante e essencial sustentar, até chegar à mudança real.
Líderes, atualmente, são desafiados a fazer com que andem juntas duas realidades: o mundo concreto, material e neutro dos negócios, do capital e dos resultados; e o mundo das necessidades, dos sentimentos, dos significados e dos valores humanos.
Portanto, os líderes, em qualquer nível das estruturas, terão que levar em conta que:
a) Atuam em uma realidade econômica em mutação permanente enquanto oportunidades, recursos, polaridades, exigindo deles compreensão, capacidade de leitura e análise para seus momentos de decisão, superação e inovação;
b) Como líder ou líderes de líderes, são responsáveis por ativar os recursos para a obtenção dos resultados e serão cobrados pelos custos junto a equipes, pessoas, contextos, riscos e ganhos. É deles que se espera que agreguem valores;
c) Precisam compreender e agir sobre forças políticas além dos muros da empresa ou da sala, pois atuam, influenciam, favorecem ou dificultam não só o resultado, mas a própria existência do negócio ou da organização. É necessário estar pronto para negociar, colaborar, propor soluções sustentáveis, organizar e inclusificar em equidade, garantindo a missão e a visão das empresas;
d) Seu protagonismo, originado no autoconhecimento e apoiado no compromisso com a sua missão pessoal, bem como a importância do seu papel, possuem a tarefa essencial de sinalizar o rumo atual e o futuro, de construir o amanhã possível e desejado, indo muito além da estratégia para o presente;
e) Terão que se importar com o conhecimento e a sabedoria instalados para garantir o que já foi construído, assim como fortalecer o orgulho de realizar e pertencer, valorizar o conhecimento e dar recursos para a evolução, integrar o novo e o velho para atender o essencial e estimular a curiosidade, a experimentação e a criatividade; e
f) Manejar a desesperança como alavanca de crescimento ao criar um clima de "inconformismo criativo", ao confrontar e aprender a lidar em conflitos, impasses e obstáculos, e, assim, concluir que é possível superá-los.
Que as lideranças não desperdicem esse momento único de transformação que a humanidade tanto requer, não importa em qual local do mundo a gente esteja.