
A liderança é um pilar essencial para o sucesso organizacional. Líderes inspiradores motivam equipes e criam ambientes saudáveis, mas há um lado sombrio da liderança que, se ignorado, causa danos às organizações e às pessoas. Este artigo explora o tema da liderança abusiva, e oferece insights estratégicos para líderes e gestores.
O Que é Liderança Abusiva?
A liderança abusiva envolve comportamentos hostis, autoritários e manipuladores como humilhação pública, críticas excessivas, abuso de poder e até intimidação. O que torna a liderança abusiva particularmente complexa é que ela é percebida de forma subjetiva pelos colaboradores, onde um comportamento pode ser percebido como abusivo por um funcionário e de forma diferente por outro.
Um especto crucial é o desalinhamento entre a agenda do líder e a agenda da organização, podendo levar a práticas abusivas, como a manipulação de informações, a imposição de metas irreais ou a criação de um ambiente de medo e competição excessiva, prejudicando a equipe e a saúde organizacional.
O caso Boeing 737 MAX (2019) serve como exemplo, onde a priorização de lucros sobre a segurança resultou em dois acidentes aéreos causando a morte de 346 pessoas e pagamentos por superiores a $2.5 bilhões em penalidade criminais.
Por que isso importa?
A liderança abusiva tem impactos reais e mensuráveis nas organizações, segundo a Harvard Business Review (The price of Incivility), 48% das pessoas sob liderança abusiva reduzem seus esforços, 47% diminuem o tempo no trabalho e 38% reduzem intencionalmente a qualidade do trabalho. Além disso, pesquisas associam liderança abusiva a burnout e baixo engajamento.
Esse tema tem ganhado interesse como pode ser observado no destaquede um dos participantes em recente estudo conduzido por mim:
"Eu acho que hoje, talvez pelo nível de consciência que as pessoas têm dos seus direitos, pelo nível de consciência que as organizações estão tendo e estão desenvolvendo ao longo do tempo, eu acho que isso está ficando cada vez mais exposto..."
A crescente exposição evidencia a mudança no ambiente corporativo, com colaboradores e organizações mais atentos aos impactos da liderança abusiva. Um entrevistado comentou sobre essa ideia:
"A gente percebe a correlação da saúde mental com o tipo de liderança que você tem. Então, de verdade, se a tua liderança é tóxica, se a tua liderança é abusiva, você vai ter mais pessoas com problema de saúde mental..."
Além dos impactos na saúde mental, a liderança abusiva também gera consequências organizacionais graves. Como observou outro participante:
"... passivo trabalhista, o número de ações, a imagem no mercado, desistência de programa de trainee..."
Os depoimentos mostram como a liderança abusiva afeta os colaboradores, a reputação e a sustentabilidade da organização. Modelos organizacionais que valorizam a colaboração, a transparência demanda liderança mais empática e adaptativos. Líderes abusivos, que se apoiam em práticas autoritárias e controladoras, estão em descompasso com essas demandas, prejudicando a capacidade da organização de atrair e reter talentos.
Pressão por Resultados: Um Catalisador para Comportamentos Abusivos
A pressão por resultados pode contribuir para o surgimento de lideranças abusivas, ambientes que priorizam resultados no curto prazo, pode levar líderes a adotar medidas extremas como a imposição de prazos irreais, a falta de empatia com os colaboradores e a justificativa de comportamentos autoritários em nome dos resultados. Essa abordagem de curto prazo é insustentável. A sustentabilidade organizacional depende de um equilíbrio entre resultados e bem-estar dos colaboradores. Líderes que ignoram esse equilíbrio comprometem a saúde da organização no longo prazo.
Cultura Organizacional: O Sistema Imunológico Contra a Liderança Abusiva
A cultura organizacional é crucial para prevenir e combater a liderança abusiva. Uma cultura que valoriza o respeito, transparência e bem-estar dos colaboradores tende a ser menos tolerante a comportamentos abusivos. Para que a cultura organizacional funcione como um sistema imunológico, as organizações devem adotar uma postura de não tolerância a desvios.
Estratégias para Identificar e Mitigar a Liderança Abusiva
Segundo a Gallup, globalmente apenas 23% dos funcionários e 30% dos gerentes estão altamente engajados. Isso indica que a maioria das organizações enfrenta dificuldades em criar um ambiente de trabalho motivador, sendo liderança ineficaz e culturas tóxicas como fatores contribuintes. A boa notícia é, ainda segundo Gallup, que organizações que adotam melhores práticas conseguem engajar 75% dos gerentes e 70% dos não-gerentes. A proporção de 14:1 (engajados para desengajados) nessas organizações demonstra que melhores práticas promovem satisfação, produtividade e resultados sustentáveis.
Nesse sentido, algumas organizações têm adotado boas práticas, focando na identificação precoce de comportamentos abusivos e na promoção de uma cultura organizacional saudável. Alguns exemplos dessas práticas são compartilhados a seguir:
- Canais de Denúncia Eficazes - Ferramentas para identificar comportamentos abusivos, garantindo anonimato e proteção contra retaliações. No entanto, sua eficácia depende da cultura organizacional, que deve incentivar a transparência e a responsabilidade.
- Códigos de Conduta e Treinamentos - Códigos de conduta claros e programas de desenvolvimentos promovendo comportamentos desejáveis. Visam aprimorar as competências de liderança e disseminar valores organizacionais.
- Ferramentas de Avaliação e Feedback - Ferramentas como o "Termômetro de Liderança" medindo a percepção dos colaboradores sobre seus líderes, ajudam a identificar oportunidades de melhoria, promovendo uma cultura de feedback constante.
- Liderança Humanizada - Programas de alinhamento do propósito organizacional com práticas de liderança, conselhos específicos para gestão de pessoas e a promoção de liderança humanizada.
Conclusão: Liderança Construtiva como Diferencial Competitivo
A liderança abusiva é um desafio complexo e deve estar na agenda estratégica das organizações, práticas proativas e investimentos em cultura organizacional são fundamentais para transformar a liderança em uma força positiva.
Líderes e gestores têm a responsabilidade de promover ambientes saudáveis e respeitosos, onde o sucesso seja alcançado não apenas através de resultados financeiros, mas também através do bem-estar e da integridade de todas as partes interessadas.