Alcançar um posto de liderança é o anseio de tantos e tantos profissionais que abraçam uma carreira no universo corporativo. Mas, sem meias palavras, se você pensa que ser líder é fácil, é melhor nem começar essa jornada repleta não só de desafios, mas de uma necessidade contínua de adaptação, resiliência, busca pelo aprendizado e, acima de tudo, empatia, pois a matéria-prima principal de nosso trabalho e de nosso sucesso é o humano.
Olhando para a minha trajetória, quantas vezes errei achando que havia acertado e, só depois de muita reflexão, pude enxergar meus pontos de melhoria? E quantas vezes, em meio às conquistas e realizações de uma história tão rica em significado e propósito, não vacilei, pisei em ovos ou desacreditei de minha própria capacidade?
Sim, já tive que desistir, já falhei e, também, já perdi o foco sobre aquilo que mais importa: os talentos, as conexões, as trocas e o ecossistema humano que impulsiona nosso desenvolvimento enquanto líderes, pessoas e seres dotados de uma potencialidade inata para a evolução. Não tenho medo em assumir as falhas, pois aquele que é transparente consigo e ciente dos pontos em que precisa progredir dá o primeiro passo para ser um bom líder: o da abertura e da humildade própria dos aprendizes.
E, ao reconhecermos esses pontos, valorizamos mais nossas realizações e entendemos também que cada ser humano é único e possui uma jornada singular de transformação, fortalecimento de virtudes e habilidades, e aquisição das bases técnicas, psicológicas e relacionais que podem nos conduzir à liderança.
Sobre esse acúmulo de saberes, aliás, é importante frisar que por mais essenciais que sejam as formações acadêmicas e curriculares que apoiam a formação de um líder – e, na minha trajetória, dei especial atenção para esse escopo formativo – é na prática que aprendemos, de fato, como lapidar talentos, como unir os objetivos estratégicos de uma organização às demandas de uma equipe e como pessoas não são apenas números – mas resultados são fundamentais.
OS DESAFIOS DA LIDERANÇA
Não foi por acaso que usei a figura do equilibrista no título deste artigo. Equilibrar pratos não é apenas uma figura de linguagem, mas uma expressão que resume de modo bem objetivo o quão desafiadora é a carreira de um líder.
Pensemos, por exemplo, nas múltiplas demandas de um líder. Em estudo de 2023, a Harvard Business Review listou algumas das prioridades centrais para as lideranças:
Acompanhar o cenário externo (fatores econômicos e mudanças nas tendências de consumo) com olhar estratégico e habilidade para abraçar e liderar transformações organizacionais;
Ampliar o conhecimento tecnológico diante do movimento de aceleração da transformação digital no mercado e sem perder de vista uma liderança humanizada;
Construir ecossistemas culturais diversos, inclusivos com o líder sendo o principal driver de inspiração e motivação para os colaboradores;
Fortalecer a integração e a colaboração entre as equipes em contextos de trabalho cada vez mais fragmentados dentro de um universo corporativo híbrido.
Não parece pouco, não é mesmo? Mas esse é apenas um lado da equação.
MOVENDO MONTANHAS E INDO ALÉM
Nesse cenário de inúmeras exigências, é muito fácil perder o foco, desanimar ou, conforme cito no início, esquecermos que nosso principal objetivo está ligado ao desenvolvimento de pessoas, seres humanos que, como nós, tem desafios, dores, angústias e ambições.
Nesse sentido, ser líder é também aprender a mover as montanhas que nos separam de uma conexão mais profunda com nossas equipes; que podem bloquear a visão para a estratégia de uma companhia e nos impedir de ter uma leitura holística que integre, mutuamente:
Nossos próprios objetivos profissionais – pois temos de estar cientes de até quando e como podemos contribuir com uma empresa e quando é a hora de dar novos passos;
Os objetivos da empresa e de que modo é possível gerar resultados sustentáveis e de longo prazo;
Os objetivos culturais do negócio alinhados às mudanças de uma sociedade que exige mais inclusão e humanismo;
Os objetivos de nossos talentos, inclusive para que possamos trabalhar com esses anseios em prol da formação de novos líderes, fortalecer o engajamento e entender o que pode e deve ser feito para melhorar os resultados da empresa.
E o que fazer para mover essas montanhas? Como também comentei, cada jornada de liderança é única, no entanto, pensando em minha experiência, aprendi que é importante:
Nos mantermos abertos (para o novo; para descobertas espirituais, intelectuais e de vida; para conhecimentos que enriquecem nossa leitura de mundo e nos permitem enxergar insights que conectam todos os objetivos acima descritos);
Trabalharmos a empatia e, sobretudo, a certeza de que sempre é possível evoluir e aprender com o outro (seja ele um grande líder ou um jovem sonhador que está começando a sua carreira);
Saber que o trabalho é importante, mas que nossas conexões de vida (familiares, com amigos e com aqueles que cruzam nossas histórias) fornecem uma base indispensável para que nos mantenhamos motivados e cientes de nosso valor;
Saber que vamos errar e que o erro é só mais uma fonte para a evolução.
Por fim, é sempre válido lembrar que a história de um líder se faz a cada dia e, para além dos desafios – e dos pratos equilibrados – temos sempre a oportunidade de descobrirmos um bem precioso (conexões, pessoas, valores, conhecimentos) que iluminará nossa rota rumo a uma carreira de sucesso e propósito.
Feliz 2024 e que novos líderes mais resilientes e transformadores se formem neste novo ciclo! * Lady Morais é CEO da consultoria Lady Morais Human Capital e conselheira e vice-presidente do Ibacc
Foto: Walmir Souza